sexta-feira, 23 de julho de 2010

Diagnóstico diferenciado na análise da ajuda humanitária


Esta semana o UOL publicou uma matéria que dizia que o Governo decidiu desbloquear R$2,5 bilhões do orçamento de 2010 após uma reavaliação das receitas e despesas programadas com base nas projeções de maior crescimento da economia e a estimativa de inflação mais baixa.

Qual é a quantia certa para um governo investir em educação? E qual será a porcentagem perfeita do PIB de um pais a ser investido em saúde? Como calcular a quantidade correta de ajuda humanitária a ser aplicada em uma comunidade ou país que precise de incentivos para se reestabelecer?
Cada vez mais, torna-se óbvia a necessidade de se observar o cotidiano e realizar levantamentos precisos em esferas detalhadas para o desenvolvimento social de paises e/ou comunidades. Não dá mais para se basear apenas em suposições ou simples projeções descontextualizadas para compor o orçamento de ajuda humanitária.
Sachs compara essa observação de caráter econômico com a prática médica de realização de diagnósticos diferenciados. A Economia Clínica, novo método de análise proposto pelo professor, prevê uma abordagem ampla e complexa em relação às causas e conseqüências da situação atual de uma comunidade ou país. Assim, muitas vezes há medidas que devem ser tomadas com urgência e administradas de uma vez para evitar um agravamento das condições atuais.
Mas a idéia de seguir um padrão de raciocínio lógico para a avaliação das próximas medidas é fundamental. Por isso, Sachs fala sobre 5 lições importantes que a boa medicina  tem a ensinar para o pensamento econômico. São elas:
1)Assim como o corpo humano é um sistema complexo, também são complexas as relações de causa e conseqüência dos problemas sociais. Uma falha pode levar a uma cascata de outras falhas. É preciso manter um funcionamento mínimo de todas as partes para evitar o descontrole da situação.
2)A complexidade exige um diagnóstico diferenciado. Quando um médico atende uma criança com febre, sabe que muitas podem ser suas causas. Algumas são perigosas, outras não. Cabe ao doutor avaliar uma lista de possibilidades, hierarquizando-as por sua probabilidade, sem descartar o fato que muitas condições são causadas por mais de um fator.
3) Toda medicina deve ser familiar. Não basta encontrar e tratar a doença apenas de uma criança, deve-se buscar compreender o ambiente e se os responsáveis são aptos a cooperar com a melhora da situação. No caso de um país, a comunidade global pode ser considerada parte da família.
4) Monitoramento e avaliação são essenciais para um tratamento bem sucedido. Uma ficha com o histórico e as questões específicas do paciente deve contribuir para a constante melhora na abordagem de cada um dos problemas. As evidências podem apontar para um caminho, mas o analista tem de estar preparado para fazer as mudanças necessárias na hora correta.
5) Medicina é uma profissão e com isso exige normas, ética e códigos de conduta. Portanto, os profissionais da área de desenvolvimento social também devem compreender seu papel, os limites de sua atuação e a responsabilidade envolvida em um trabalho deste porte.

Estas considerações estão no quarto capítulo do livro O Fim da Pobreza, de Jeffrey Sachs. Foi feita uma tradução livre e comentada das palavras do autor.

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