terça-feira, 29 de junho de 2010

Emergente ou em situação de emergência?

Barraco erguido com escombros da destruição em Branquinho (AL). Utilizando materiais diversos, a família Conceição, composta por 10 pessoas, preferiu erguer sua própria habitação à depender dos abrigos lotados disponibilizados pela Defesa Civil.
(Foto: Beto Macário -  Especial para UOL)



Barraco/moradia de uma família na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco. Apesar da comunidade possuir muitas casas feitas de bloco, ainda há uma grande quantidade de barracos feitos de madeirite, restos de madeira, panos, outdoors e outros materiais de extrema fragilidade.
A comunidade fica no alto de um morro e a força do vento põe em risco a estrutura de grande parte das habitações precárias do lugar.





Também na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco, pode-se observar na casa de outra família,  de uma mãe e três crianças, a situação cotidiana pela qual algumas pessoas se vem obrigadas a enfrentar.
O cômodo que serve como dormitório desmoronou e o chão do resto da casa esta ruindo a cada dia. Sem ter uma melhor alternativa de moradia, a família se vê obrigada a continuar neste barraco (comprado por mais de 10 mil reais e ainda sob pagamento).

O receio de chamar as autoridades é de que a Defesa Civil apenas os retire da casa que compraram sem garantir um novo espaço. Segundo a própria família, muitas pessoas que são retiradas de suas casas por estarem em áreas consideradas de risco acabam se encontrando em situações ainda mais complicadas depois das "soluções" dadas pelo governo








Vendo estes três exemplos de extrema pobreza na prática, volto a refletir sobre o que queremos dizer com o termo país emergente. Será que estamos falando em ascensão econômica e desenvolvimento social ou apenas fazendo um chamado de atenção para a situação de emergência pela qual estes países estão passando diariamente?
Os casos acima são apenas uns poucos registrados, em uma infinidade de injustiças e tragédias diárias que existem em todo o território nacional. A matéria do UOL, apesar de trazer um tom de denúncia e servir para atingir um público amplo sobre a situação no Alagoas, peca ao mostrar esta situação como algo surreal, único e exclusivo de um estado de calamidade pública causado por um fenômeno natural. Confira a matéria do UOL de 28/06/2010
Todos os dias encontramos pessoas que vivem em situações parecidas ou até mais complicadas de moradia, não por que foram atingidas por forças da natureza, mas por que de alguma forma foram deixadas às margens da sociedade, dos direitos, da ascensão econômica e de todo esse desenvolvimento social do qual os países emergentes tanto se vangloriam.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Água

 Na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco, a água é um bem bastante disputado. A distribuição é feita de maneira bastante irregular pelos órgãos públicos. Há muita intermitência no fornecimento às pessoas que possuem encanamento, uma minoria na região. Todos os outros moradores dependem de um sistema extremamente precário elaborado e financiado pela própria comunidade.  
                                                                                     



Nas imagens pode-se ver o sistema de mangueiras expostas que conduzem a água dos escassos pontos de fornecimento - muitas vezes a casa de um morador - ao resto das pessoas.
A grande maioria não possui acesso direto nem a essas mangueiras, tendo que periodicamente depender do abastecimento de tonéis e galões para obterem água por alguns dias.
Em todas as casas entrevistadas, haviam torneiras e pias sem uso, substituídas na prática por caixas de água, tonéis, baldes e outros recipientes muitas vezes imundos para a armazenagem desse item tão importante.
Vale dizer que a comunidade é muito grande, dividida em 6 setores, todos dependentes deste sistema.

O tema do fornecimento de água limpa e potável é um dos pilares do desenvolvimento social, tendo em vista que todo ser humano tem necessidades básicas e diárias de consumo. Se estas necessidades não são atendidas, o desempenho no cotidiano sofre grandes alterações, gerando uma reação em cadeia para que estas pessoas não consigam sair da situação de extrema pobreza em que se encontram.
Ao mesmo tempo, já existe muito conhecimento na área de fornecimento de água e saneamento básico que não têm ainda alcance para todos. Além das estruturas urbanas, há também algumas soluções quase emergenciais que, apesar de interessantíssimas, ainda não recebem o devido apoio. É o caso de uma garrafa com filtro para qualquer tipo de água, chamada Life Saver e desenvolvida pelo inglês Michal W. Pritchard. 
Há um vídeo interessantíssimo de demonstração dessa garrafa em: http://www.ted.com/talks/lang/eng/michael_pritchard_invents_a_water_filter.html




                                                                        

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Proteção social e Bolsa Família

Na semana passada, a ONU divulgou um novo relatório de acompanhamento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, em Nova Iorque. A BBC Brasil publicou uma matéria resumindo alguns dos pontos principais citados no documento e eu, infelizmente, ainda não encontrei o documento na íntegra, pela Internet.
Na reportagem ONU cita Bolsa Família entre ações que contribuem para Metas do Milênio, o destaque é dado para o fato do Programa Bolsa Família, junto a um programa mexicano chamado Oportunidades, ter aparecido como uma das ações que vem contribuindo para o fim da pobreza nestes países. De fato, eu acredito que esse tipo de política de proteção social e transferência de dinheiro público têm muito a contribuir com as camadas mais pobres da sociedade.
Porém, o que tem de ficar bem claro é o fato de ainda haver necessidade de se combinar diversas ações para suprir as necessidades complexas de uma população. A transferência de dinheiro é uma política que deve ser sempre examinada com bastante cautela. Afinal, a simples ingestão de dinheiro público na população carente automaticamente altera o resultado das pesquisas e dados sobre pobreza. O habitante que tem renda per capiuta inferior a U$1,25 por dia, ao receber o auxílio estatal, sai instantaneamente da linha da pobreza no papel, mas na prática continua vivendo nas mesmas condições que se encontrava antes do benefício.
É claro que este benefício pode vir a trazer um novo status à família que o recebe, mas cabe ainda a outras políticas públicas garantir um leque de oportunidades que permitam que esse dinheiro recebido possa ser investido em infra-estrutura e desenvolvimento familiar.
Deve haver um equilíbrio muito bem pensado nos cofres públicos que garantam que a transferência direta de dinheiro não substitua os diversos investimentos em infra-estrutura coletiva, como fornecimento de água limpa, construção de redes de saneamento básico, qualificação dos transportes, oportunidades de moradia de baixo custo e alto desempenho e, claro, geração de renda.
O documento da ONU aparentemente traz ainda uma série de outras informações sobre os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mas isto terá de ficar para um outro momento.




                              


                                                                                                       


                                  

                                                

domingo, 20 de junho de 2010

Crise de Bem Estar e Crescimento Invísivel

Duas matérias interessantes para observar as discussões sobre desenvolvimento social e pobreza.
Na primeira reportagem, a Folha conta a "bem sucedida" política de bem estar social implementada na Irlanda. De tão interessante, as pessoas preferem depender da ajuda estatal à procurarem suas próprias formas de sobrevivência. Eu de fato me pergunto: se há tanto recurso disponível para ser compartilhado com os cidadãos irlandeses, qual seria a melhor forma de investir esse capital?
A segunda sugestão de leitura é um pequeno artigo do jornalista Fernando Canzian sobre o crescimento acelerado do país. Ao meu ver, ainda havia bastante assunto a ser explorado por ele, mas ele toca na discussão Crescimento X Desenvolvimento. Ainda vamos discutir bastante a relação entre o crescimento econômico e os reflexos desse aumento de capital para as camadas mais pobres na prática. Vale como subsídio para a discussão pelos mapas de crescimento no Brasil e pode despertar alguma reflexão pela comparação entre estados.

Pobreza na prática


































Eu tinha planejado escrever hoje sobre um projeto de educação que trabalha conectando universitários à realidade da educação pública no Brasil, mas fui ontem mais uma vez aplicar enquetes sócio-econômicas junto a ONG Um Teto para meu País e achei importante escrever sobre isso.

As fotos são da comunidade de Padroeira, no município de Osasco. Já havia estado na região outra vez, e a sensação infelizmente continua semelhante. Quando ouvimos falar ou lemos algo sobre as linhas de pobreza ou indigência, estabelecidas por órgãos internacionais como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI), fica bastante difícil dar significado ou compreender o que significa uma parcela - grande - da população vivendo com menos de U$1,25 por dia.
Afinal, o valor soa tão baixo que não parece possível, e assim perdemos um pouco do que essa informação poderia nos mobilizar a fazer. Mas entrando e desbravando espaços em que estes números fazem parte do cotidiano, é possível aos poucos conhecer a situação emergencial pela qual milhões de pessoas no mundo são obrigadas a enfrentar todos os dias.
Apesar do crescimento aparente do país e os diversos programas de ajuda criados para suprir algumas carências básicas da população, ainda há muito trabalho a ser feito antes que possamos concretizar o sonho do economista prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, de colocar a pobreza em um museu. Para atingir a esse objetivo, é preciso fazer mais do que apenas investimentos financeiros ou ações de desenvolvimento econômico.
Carecemos de um pensamento coletivo voltado a concretização de uma sociedade mais justa e melhor distribuída. Com certeza já possuímos as ferramentas necessárias para evitar que situações como as retratadas nas fotos sejam evitadas. O que nos falta, coletivamente, é interesse real de assumir essa responsabilidade e trabalhar por sua mudança.
Nessa hora, não dá prá ter preguiça. E quanto antes resolvermos essas questões, mais cedo poderemos celebrar festas, viagens e copas do mundo sem peso algum na consciência.







Casas construídas sob o córrego. Constante perigo e odor extremamente desagradável, todos os dias.













quarta-feira, 16 de junho de 2010

Gêmeas ficam sem vaga em escola pública



Começo este post dizendo que particularmente, nem acho que essa reportagem represente de fato a realidade de educação no país. Com certeza, ela representa os prejuízos causados pela desumanização dos processos. As meninas foram vítimas de um erro, de certa forma plausível, justificado pela identificação de uma duplicidade no registro das crianças.
De fato, é algo possível de acontecer e deveria ser também fácil de ser consertado. Mas infelizmente, eventos como esse devem acontecer todos os dias, em todos os cantos do país e, na maioria das vezes, devem acabar sem uma solução construtiva.
A educação é sempre tema de discussões acaloradas e costuma gerar um bom debate sobre as origens e soluções dos problemas no Brasil. Porém, não basta garantir que todas as crianças consigam suas vagas, é necessário buscar a excelência no ensino, envolvendo a sociedade não só na teoria do problema, mas também na prática da solução.
Na próxima publicação vou escrever sobre uma ideia, que virou um projeto e tem bastante a contribuir para esta discussão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dentes brancos e bolsos menos vazios

Em relação ao meu post anterior, fiz uma certa crítica à maneira como foi abordado o tema da pobreza pela Folha e, ontem, tive a grata surpresa de verificar uma matéria que de fato trabalhava uma iniciativa pontual de melhoria das condições dos mais desfavorecidos.
No mesmo caderno Mercado, a jornalista Carolina Matos traz, sob a manchete "Dentista cria rede com mais de 100 clínicas", a experiência da rede odontológica Sorridents, que atende pessoas de baixa renda no Brasil, e em 2009 atingiu R$120 mi em faturamento.
A empresa, criada em 1995 por uma estudante de odontologia, queria atender a um público que não possuía recursos, e foi proposto um esquema de financiamento para as consultas e cirurgias. Apesar dos atendimentos não serem gratuitos e aparentemente não haver um planejamento de compensações entre quem pode e quem não pode pagar, a empresa Sorridents se enquadra em uma discussão do indiano C. K. Prahalad sobre negócios voltados à base da pirâmide.
Em seu livro, A Riqueza na Base da Pirâmide, o doutor em administração e professor de estratégia corporativa comenta sobre este novo mercado com foco nos bilhões de baixíssima renda que vivem "na base da pirâmide global". Algumas empresas notaram a possibilidade de faturar milhões por meio das vendas para as classes D e E, elaborando produtos de menor custo, maior financiamento e muitas vezes acompanhados também de baixa qualidade.
Assim, a Sorridents, retratada na matéria, vem para suprir esta carência de atendimentos odontológicos para uma população sem acesso aos serviços particulares tradicionais e ignorados pelas políticas públicas. A questão é como garantir que estes serviços mantenham um padrão de excelência sem excluir os mais pobres dos mais pobres. E ainda, por que o poder público não consegue qualificar seu atendimento à população? Atualmente o serviço é realizado pelo SUS e o cidadão tem de enfrentar filas gigantescas, esperar que abra a agenda dos dentistas, o que pode fazer com que a consulta seja realizada meses depois.
Mas, aparentemente, é possível de ser feito de uma forma diferente.

Para saber mais, acesse www.sorridents.com.br

obs: A matéria da Folha está bloqueada somente para assinantes

domingo, 13 de junho de 2010

Por uma outra abordagem

A Folha de São Paulo publicou hoje em seu recém criado caderno entitulado Mercado, uma matéria com a seguinte manchete "Brasil deve cortar pobreza à metade até 2014".
A reportagem é baseada na entrevista cedida pelo economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-Rio. O que chama a atenção é a fundamentação puramente econômica para uma afirmação de tamanho peso quanto a da chamada para a reportagem.
A análise do Centro de Pesquisas é bem pouco questionável em relação a sua metodologia, tendo em vista a credibilidade que uma instituição como a FGV-Rio tem no setor econômico. O que incomoda é a redução de todo um contexto social de desigualdades sociais invisíveis em apenas um viés, voltado principalmente ao crescimento econômico do país na chamada "era Lula".
Não há dúvidas que o país vem experimentando nos últimos anos uma fase de excelente desenvolvimento econômico, com consequente aumento de visibilidade e força política internacional, mas ainda é bastante cedo afirmar que o país está ativamente diminuindo as desigualdades sociais. Para usar de um pouco de teoria econômica, o economista Marcelo Neri parece ser adepto de um ponto de vista keynesiano que afirma que é necessário esperar a massa do bolo crescer para dividi-la. Porém, esta prática é revista e criticada pelo economista e consultor das Nações Unidas, Jeffrey Sachs.
Segundo Sachs, os países desenvolvidos e também os emergentes deveriam investir ativamente uma maior parcela do PIB em ações práticas de desenvolvimento. Eu particularmente acredito que uma reportagem que traz uma notícia tão boa, como este anúncio da redução de metade da pobreza do país, deveria estar inserida em um caderno como o Brasil, ou o Cotidiano. E sendo bem crítico, eu gostaria de ver no detalhe da reportagem ações que vem sendo realizadas pelo Estado, empresas e a Sociedade Civil, organizada ou não, subdivididas em projetos para melhoria da Habitação, Educação, Segurança Pública, Saneamento Básico, Transportes e Geração de Renda, para citar apenas algumas das questões que rodeiam as desigualdades de oportunidade do Brasil.
O foco apenas no crescimento econômico do país e na geração de renda encoberta por números despersonalizados reafirma a visão corrente de que a pobreza é vista no país como um fenômeno quase que exclusivamente restrito à Economia, e pouco focado na complexidade e amplitude multidisciplinar que deveria envolver a discussão da Pobreza.

Obs: Na reportagem foi considerada a Pobreza como: pessoas que vivem com até R$137,00 per capita por mês.
Related Posts with Thumbnails
BlogBlogs.Com.Br