quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mudança de endereço! umjornalismosocial.wordpress.com

Olá amigos,
a partir de agora este Blog será hospedado no Wordpress.
http://umjornalismosocial.wordpress.com

Apesar de eu gostar do blogspot, principalmente da parte estética, o Wordpress agrega ferramentas importantes como a possibilidade de se inscrever e receber os posts por e-mail.
A partir de outubro, o blog estará sendo escrito de Israel, da Índia, de alguma lugar do Oriente Médio ou do Sudeste Asiático. Espero que vocês continuem acessando e comentando o que acharem relevante.
Inscrevam-se no novo endereço e recebam os posts mais facilmente.

Definição de Pobreza - Muhammad Yunus e Grameen

Uma definição de pobreza que leva em consideração apenas a renda, como a famosa linha de U$1,00 por dia, com certeza carece de um aprofundamento se a proposta é, de alguma maneira, contribuir com a solução do problema. Afinal, um ser multidimensional como o ser humano precisa de uma análise e soluções mais complexas.
O Professor Muhammad Yunus, famoso por sua atuação com o microcrédito junto ao Banco Grameen, propõe um novo modo de encarar a pobreza. Ele definiu, junto à sua equipe do Grameen,  dez pontos básicos que diferenciam uma vivência digna de outra repleta de carências potencialmente prejudiciais. Assim, àqueles que não se enquadram nestes princípios básicos são considerados ainda "pobres" pelo Banco:
"1) Vivam em uma casa com telhado de zinco e durmam em catres ou estrados, em vez de dormirem no chão. Ou casas que valham pelo menos 25 mil tacas (370 doláres).
2) Bebam água pura encanada, água fervida ou água sem arsênico, filtrada ou purificada de alguma forma.
3) Todos os filhos física e mentalmente saudáveis, acima dos 6 anos, frequentem ou já tenham terminado o ensino básico.
4) A prestação mínima semanal semanal do empréstimo com o Grameen seja de 200 tacas (3 doláres).
5) Todos na casa usem latrinas higiênicas
6) Todos tenham roupas suficientes para satisfazer suas necessidades diárias (roupas de inverno, mantas e mosquiteiras)
7) A família possua fontes adicionais de renda, às quais possam recorrer em caso de necessidade.
8) O membro Grameen mantém um saldo anual médio de 5 mil tacas na poupança (próximo à 75 doláres).
9) Consiga oferecer à sua família 3 refeições substanciais por dia, o ano todo.
10) Todos cuidem da saúde, tomem medidas imediatas e possam arcar com despesas médicas, em caso de doença."*

A importância destes 10 parâmetros é de reafirmar a necessidade de que a pobreza seja definida claramente, de modo que um programa ou projeto antipobreza tenha público-alvo, metas, objetivos e resultados capazes de se tornarem realidade. Muitas vezes ainda será necessário redefinir a pobreza de acordo com o ambiente, o estado ou o país, para qualificar ainda mais a atuação de projetos e empreendedores que buscam a solução para estes problemas sociais.
Não há mais como equilibrar políticas públicas e iniciativas sociais em dados despersonalizantes e tão distantes da realidade factual pela qual os mais pobres do mundo estão passando. Afinal, o que significaria - de fato - viver com menos de U$1 ao dia? E qual solução iria conseguir alterar esta realidade sem parecer simplista ou desrespeitosa com a grande diversidade de seres humanos abaixo dessa linha?

*Trecho extraido do 5º capítulo do livro Um Mundo sem Pobreza, de Muhammad Yunus.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Empatia da Civilização

Dessa vez, um vídeo muito interessante. Não só por seu conteúdo, mas também pela forma como ele foi produzido. Interessantíssimo!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ranking de países

A revista Newsweek lançou um site virtual muito interessante com um infográfico interativo muito completo. Ele compara diversos aspectos e dados de países e você pode construir rankings de acordo com as prioridades escolhidas.
Vale uma boa olhada:
http://www.newsweek.com/2010/08/15/interactive-infographic-of-the-worlds-best-countries.html#

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um outro olhar sobre a exclusão

Discutir exclusão social é uma tarefa difícil. Ao mesmo tempo em que é um tema amplamente comentado, na maioria das vezes é sempre observado sobre uma ótica unidirecional. Ou seja, estuda-se o “excluído involuntário”, aquele que por alguma razão – ou um conjunto delas – situa-se à margem de alguma condição social de maioria.

É sempre o morador da favela, da periferia, de rua, o pobre ou o outro que é taxado de excluído, em relação ao que “nós” possuímos. Porém poucas são as vezes em que temos a sinceridade de nos enquadrar em uma outra classificação de excluídos: os excluídos voluntários.

O indivíduo que escolhe, voluntariamente, se posicionar às margens de uma realidade tida como mais complicada também está se excluindo. Explico: manter uma relação com o desfavorecido, o pobre, o favelado ou o morador da periferia apenas no campo das idéias é uma forma até mais cruel de exclusão. Abdica-se do dever de colaborar com esta pessoa em situação desfavorável em troca de um discurso, uma postura distanciada e uma série de justificativas aparentemente plausíveis.

Opta-se por uma postura distanciada, fazendo vista grossa aos problemas reais e enquadrando a complexidade dos problemas possíveis como se fossem um bloco só (do qual queremos distância);

Porém, urge a necessidade de um novo olhar sobre a exclusão. Não apenas incluir os desfavorecidos à vida publica e seus benefícios, como também incluir esta grande maioria já estável na solução dos problemas sociais. Na prática, há a necessidade de substituir esta lógica que divide a sociedade em duas para reestabelecer um sentimento de co-responsabilização pelo outro.

sábado, 14 de agosto de 2010

Não paguem às nossas crianças, eduquem-nas!


                                      
Muito se escuta - e se fala - sobre a importância da educação para o crescimento e desenvolvimento de um país. Porém, raras são as vezes em que se é possível observar e discutir qual educação, de que forma ela deveria acontecer, e quais os meios para deixá-la mais atrativa e, portanto, mais eficiente.
Na Folha de São Paulo de ontem, o caderno Cotidiano traz uma reportagem sobre um projeto chamado Multiplicando Saber. Nem vou começar dizendo "a ideia é boa, mas..." porque particularmente não acho o princípio positivo. O projeto é um piloto, fruto de parcerias interessantes: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organizações Não-Governamentais, professores da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).
A proposta se divide em duas iniciativas principais. Primeiro, jovens do 2º e 3º ano do ensino médio poderão se inscrever para serem tutores em matemática de "pupilos" da 6º ou 7º série do ensino fundamental. A segunda iniciativa é premiar os chamados pupilos que comparecerem a um mínimo de aulas de reforço escolar (pois elas são recomendadas, mas não obrigatórias).
Os tutores selecionados receberão R$115,00 para ministrar estas orientações e os pupilos serão beneficiados com R$50,00 se atingirem a presença mínima. A própria matéria traz opiniões divergentes. Enquanto alguns afirmam ser uma iniciativa louvável para criar um certo compromisso com a melhora do aprendizado em matemática, educadores expressam certo repúdio ao vínculo financeiro e à falta de capacitações propostas aos tutores.
A minha pergunta é: será que a matemática é indiscutivelmente chata e a única solução para despertar o interesse de crianças, naturalmente sedentas por aprendizagem, é o vínculo direto com benefícios materiais?
Fico pensando se não há outras formas mais interessantes de despertar o prazer em aprender, em se relacionar com o outro por meio do conhecimento e a superar as dificuldades de aprendizado do que apenas vinculando o sucesso escolar com bonificações de toda ordem. Afinal, a dificuldade em uma matéria específica como a matematica pode ser o reflexo de uma série de outros fatores que atrapalham o desenvolvimento do raciocínio e o desenvolvimento da criança.
O que estas crianças estão de fato precisando é uma educação baseada em valores, que contextualize o aprendizado e contribua para a inserção social. Assim, gostaria de citar o Projeto Entreeducar como uma iniciativa pioneira na forma de complementar o ensino formal, e de colaborar para o desenvolvimento de uma relação afetiva entre o educando e o conteúdo aprendido. Para isso, universitários da FGV reunem-se semanalmente para elaborar e discutir atividades educativas lúdicas e dinâmicas. Assim, aos sábados, as crianças podem participar de momentos educativos não convencionais. Por exemplo: Um caça ao tesouro deixa de ser em busca do tesouro do pirata e passa a ser em busca dos segredos da matemática. O mapa é substituído por pistas que levem em conta os conhecimentos que a criança tem sobre as matérias escolares, e o educando é confrontado na prática a desenvolver suas capacidades de raciocínio. Aproveita-se o espaço de diversão para contextualizar o aprendizado. 
Dessa forma, é possível trazer o jogo e a brincadeira - tão presentes e importantes no nosso desenvolvimento intelectual - como complementos para atrair o interesse dessas crianças com dificuldades. O Entreeducar aproveita-se do potencial existente na universidade para propiciar uma troca de experiências de interesse mútuo. Sensibilizando as futuras lideranças do país por meio do contato direto com crianças do ensino público de base. O Projeto está aos poucos saindo de sua fase experimental, acumulando parceiros e admiradores na construção de uma outra forma de se relacionar com a educação. 

domingo, 8 de agosto de 2010

A Torre 2: Alta tensão



Viver na beira de uma das estradas de maior movimento do Brasil já seria desagradável o suficiente. Morar em uma região sem infra-estrutura, abandonada pelo poder público e palco de disputas territoriais por parte de grandes companhias de, adivinhe: infra-estrutura.
Na comunidade conhecida como "da Torre", localizada na entrada de Guarulhos pela Rodovia Fernão Dias, os habitantes se viram obrigados a estabelecer suas moradias apoiadas nas grandes estruturas metálicas que carregam milhares de Volts de eletricidade sem parar. Com a grande maioria das casas feita de restos de outdoors e madeira podre, a comunidade ainda possui uma série de características atenuantes à situação de vulnerabilidade e risco social.
A grande quantidade de lixo depositado no entorno, somado à proximidade com um córrego sem escoamento correto, atraem para a região um odor desagrádavel e constante, que marca até no olfato a precariedade da condição de vida daquelas pessoas. Incomodando a visão e a tranquilidade das famílias estão as imensas estruturas da rede elétrica que servem de apoio estrutural para algumas moradias empilhadas sem planejamento.
Da mesma forma que essas estruturas dão certo suporte as construções improvisadas, também relembram o tempo todo o perigo desta proximidade com a rede elétrica, resultando em um número razoável de mortes por causa do contato direto com a eletricidade. Os moradores que ali residem - alguns com mais de dez anos de "casa" - dizem já ter se acostumado com a condição, e agora reclamam da remoção feita pela prefeitura, em nome das empresas de energia (ir)responsáveis pela área.
Não há dúvidas de que esta comunidade não deveria ter se estabelecido nesta região, deste modo. Porém, poucas são as soluções encontradas pelo poder público e por empresas privadas para realocar estas pessoas para outro lugar mais seguro. Quando a funcionária da prefeitura foi confrontada sobre o futuro destas pessoas, primeiramente afirmou que "estas pessoas" sempre voltam a morar nestas condições.
Mas quais são os incentivos, ou mesmo as alternativas que estão sendo dadas para evitar que estas famílias que atualmente estão desestruturadas e/ou passando por uma dificuldade extrema possam sair desta condição? Com certeza, se as oportunidades certas estivesses disponíveis, todos poderiam encontrar uma alternativa menos cruel e se reerguer aos poucos.


domingo, 1 de agosto de 2010

A Torre

Gurarulhos, Comunidade da Torre sendo desocupada

Sexta feira passada fui conhecer algumas comunidades do entorno da Rodovia Fernão Dias, bem próximo à saída de São Paulo. Com dois amigos da Ong Um Teto Para Meu País, saímos em busca de alguns endereços que já tínhamos pesquisado, mas andando pela rodovia, avistamos um aglomerado de moradias que se amontoavam embaixo da rede elétrica que acompanhava a estrada. Resolvemos parar.
Quando descemos do carro, ainda estávamos em uma ruela de casas de alvenaria e nos indicaram que continuássemos indo até a comunidade conhecida como "A Torre". Após cruzar um córrego muito sujo, começamos a caminhar pela favela e percebemos que havia uma tensão por todo o lugar (além da tensão dos fios elétricos que atravessavam grande parte das moradias).
Para entender: a região em que essa comunidade se formou passa por baixo dos fios de eletricidade e termina em um córrego, tudo isso quase à beira da Rodovia Fernão Dias. Todos os barracos que pudemos observar eram feitos de madeirite ou restos de madeira (como outdoors, estrados de camas, "palets" e etc.). Há uma grande quantidade de lixo por todo o percurso e não há sinal algum de infra-estrutura básica. A sensação é de que estávamos em um campo de refugiados ou algo do gênero.  
As famílias nos contaram que estavam sendo desalojadas pela prefeitura, pois a região pertencia à duas empresas privadas que solicitaram reintegração de posse, e a Prefeitura de Guarulhos estava realizando a remoção bem na hora que chegamos. Alguns funcionários pichavam a fachada dos barracos com um "D", de desocupado e seguiam em frente cadastrando as famílias.
De fato, a situação é extremamente precária e perigosa para todos os moradores da comunidade da Torre, e mesmo assim ouvimos moradores que residiam ali há mais de 10 anos. Agora, estavam sendo despejados, sem lugar para onde ir, e recebendo uma chamada bolsa-aluguel, de 1200 reais para sobreviverem 4 meses (os moradores apelidaram o tal benefício de "bolsa-despejo"). 
Não há dúvidas que aquelas pessoas não deveriam viver em uma situação como a que vimos, mas com certeza a simples expulsão, sem uma proposta alternativa de moradia, obrigará estas pessoas a migrarem para uma situação ainda pior (se é que isso é possível). As famílias estavam sendo obrigadas a deixar suas moradias em poucos dias, sem estrutura para encontrar um lugar decente e de menos risco e vulnerabilidade. Com certeza, quem tomou a decisão da desapropriação em uma sala de escritório, não sabe - e nem deve querer saber - qual será o destino dessas mais de 380 famílias que ali viviam.
Como cada um faz apenas uma parte do serviço, ninguém consegue ficar de fato sensibilizado com a situação da comunidade. Os funcionários da Prefeitura apenas cadastravam as famílias e marcavam as casas que tinham de ser desocupadas. Uma construtora apenas levava os bens das poucas famílias que tinham outro destino já acertado. Os advogados e a Prefeitura apenas assinaram alguns papéis de reintegração de posse. E ali, as famílias tinham que, apenas, encontraram um novo lugar para reconstruir e reerguer novamente suas vidas (com 300 reais por 4 meses).
Impossível não lembrar das palavras de Adolf Eichmann, em seu julgamento no pós-Segunda Guerra Mundial, quando afirmou que não podia ser considerado culpado pois apenas fazia seu trabalho como oficial nazista e era apenas uma pequena peça de toda a estrutura. (A Hannah Arendt escreveu bastante sobre essa questão em seu livro Eichmann em Jerusalem, em que utiliza-se da expressão "banalidade do mal")
Pretendo escrever mais sobre a comunidade da Torre, pois ela possui uma série de particularidades que valem a pena registrar.





















terça-feira, 27 de julho de 2010

Infra-estrutura por favor...



Na Folha de São Paulo de hoje, o senador Eduardo Suplicy escreveu um texto de opinião em parceria com Philippe Van Parijs, presidente do Conselho da Rede Mundial de Renda básica, sobre sua proposta polêmica de renda Básica para o Brasil. A ideia da renda básica é proporcionar a todos os cidadãos de um país, sem distinção de classe social ou condição financeira, um auxílio financeiro mensal, como forma de garantir um mínimo de renda mensal para todos.
A polêmica está na transferência direta de verba pública para as mãos de pessoas que não necessariamente precisam deste auxílio. Assim, pode ocorrer mal uso destes recursos a partir do momento em que eles serão destinados a camadas da população que não se beneficiam com o dinheiro, ao invés de serem investidos, ou até mesmo transferidos, para as pessoas em situação de pobreza ou risco social.
Ao mesmo tempo, no caderno Cotidiano, a Folha traz também uma matéria criticando os investimentos mal feitos em estradas do país. A reportagem conta alguns casos de obras públicas milionárias que parecem ter sido feitas com certo descaso ou sem manutenção posterior, o que acarreta uma redução importante na durabilidade destes investimentos.
Pois é a partir destes dois exemplos que reafirmo a convicção de que o investimento em desenvolvimento social e redução da pobreza deve sempre ser pensado em médio/longo prazo, e priorizando as questões de infra-estrutura coletiva e planejamento urbano. 
Pensemos assim: a linha da pobreza, definida pelo Banco Mundial, classifica o "pobre" como aquele que sobrevive com menos de U$1 dolar por dia. Pois bem, se levássemos em conta apenas esta classificação, a proposta de Renda Básica do senador Suplicy automaticamente excluiria todas as pessoas que estão abaixo dessa linha.
Porém, o que faria um cidadão com uma quantidade mínima de dinheiro nos bolsos, mas sem transporte para trabalhar ou mesmo utilizar essa renda? Ou o que ele faria com essa verba quando ficasse doente e não tivesse nenhum posto de saúde próximo a sua casa e nenhuma alternativa para se curar? Ainda, como ele poderia usar este recurso financeiro para educar seus filhos sem uma escola qualificada disponível?
É claro que poderia estender estas perguntas infinitamente, abordando questões como moradia, segurança, cultura, bem-estar e todas as outras esferas da vida humana que não são resolvidas apenas pela posse de dinheiro.
Por isso, se estivermos de fato dispostos a contribuir para que a Pobreza seja apenas uma lembrança negativa de tempos em que não soubemos nos organizar, temos que atuar em prol do desenvolvimento estrutural de nossa sociedade, garantindo que independente da riqueza pessoal de cada um, todos têm acesso ao mínimo para uma sobrevivência digna. Quanto mais conseguirmos igualar as oportunidades, mais facilmente concretizaremos o sonho do prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, de "colocar a pobreza em um museu".

Obs: O Milennium Project estima - assumidamente sem grande precisão - que seriam necessários em torno de U$ 195 bilhões por ano em ajuda humanitária para se alcançarem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Isso representa em trono de 0,54 do PIB dos países ricos. Vale ressaltar que a Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (ODA, em inglês) estabelecida pelos países ricos é de 0.7% do PIB, porcentagem esta longe de ser cumprida pelos proponentes.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Diagnóstico diferenciado na análise da ajuda humanitária


Esta semana o UOL publicou uma matéria que dizia que o Governo decidiu desbloquear R$2,5 bilhões do orçamento de 2010 após uma reavaliação das receitas e despesas programadas com base nas projeções de maior crescimento da economia e a estimativa de inflação mais baixa.

Qual é a quantia certa para um governo investir em educação? E qual será a porcentagem perfeita do PIB de um pais a ser investido em saúde? Como calcular a quantidade correta de ajuda humanitária a ser aplicada em uma comunidade ou país que precise de incentivos para se reestabelecer?
Cada vez mais, torna-se óbvia a necessidade de se observar o cotidiano e realizar levantamentos precisos em esferas detalhadas para o desenvolvimento social de paises e/ou comunidades. Não dá mais para se basear apenas em suposições ou simples projeções descontextualizadas para compor o orçamento de ajuda humanitária.
Sachs compara essa observação de caráter econômico com a prática médica de realização de diagnósticos diferenciados. A Economia Clínica, novo método de análise proposto pelo professor, prevê uma abordagem ampla e complexa em relação às causas e conseqüências da situação atual de uma comunidade ou país. Assim, muitas vezes há medidas que devem ser tomadas com urgência e administradas de uma vez para evitar um agravamento das condições atuais.
Mas a idéia de seguir um padrão de raciocínio lógico para a avaliação das próximas medidas é fundamental. Por isso, Sachs fala sobre 5 lições importantes que a boa medicina  tem a ensinar para o pensamento econômico. São elas:
1)Assim como o corpo humano é um sistema complexo, também são complexas as relações de causa e conseqüência dos problemas sociais. Uma falha pode levar a uma cascata de outras falhas. É preciso manter um funcionamento mínimo de todas as partes para evitar o descontrole da situação.
2)A complexidade exige um diagnóstico diferenciado. Quando um médico atende uma criança com febre, sabe que muitas podem ser suas causas. Algumas são perigosas, outras não. Cabe ao doutor avaliar uma lista de possibilidades, hierarquizando-as por sua probabilidade, sem descartar o fato que muitas condições são causadas por mais de um fator.
3) Toda medicina deve ser familiar. Não basta encontrar e tratar a doença apenas de uma criança, deve-se buscar compreender o ambiente e se os responsáveis são aptos a cooperar com a melhora da situação. No caso de um país, a comunidade global pode ser considerada parte da família.
4) Monitoramento e avaliação são essenciais para um tratamento bem sucedido. Uma ficha com o histórico e as questões específicas do paciente deve contribuir para a constante melhora na abordagem de cada um dos problemas. As evidências podem apontar para um caminho, mas o analista tem de estar preparado para fazer as mudanças necessárias na hora correta.
5) Medicina é uma profissão e com isso exige normas, ética e códigos de conduta. Portanto, os profissionais da área de desenvolvimento social também devem compreender seu papel, os limites de sua atuação e a responsabilidade envolvida em um trabalho deste porte.

Estas considerações estão no quarto capítulo do livro O Fim da Pobreza, de Jeffrey Sachs. Foi feita uma tradução livre e comentada das palavras do autor.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Risco de perder uma grande oportunidade


No último dia 8 de julho, foi aprovada a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2011. O foco dessa medida é a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpiadas que acontecerão no Brasil em 2014 e 2016, respectivamente.
Entre as alterações, estão a redução dos critérios para licença ambiental, desapropriação de imóveis e a possibilidade de se contratar empresas em regime emergencial, sem o cumprimento da Lei de Licitações nº 8.666. Porém, sem a obrigatoriedade das licitações, corre-se um alto risco de haver superfaturação de obras e monopólio por parte de algumas poucas empresas para receber a enxurrada de investimentos públicos e privados para o país.
Eu posso compreender a justificativa de que essas são ações para evitar o atraso de obras ou o embargo por parte de órgãos de proteção, sejam do meio ambiente ou mesmo das contas públicas (como o Tribunal de Contas da União). Mas ao mesmo tempo não podemos deixar essa empolgação toda corromper a democracia e abrir espaço para que aproveitadores usem destas brechas para uma ação indevida. (Afinal, é muito fácil caracterizar um projeto qualquer como "em situação de emergência" e com essa justificativa burlar qualquer sistema de controle social)
Além do risco financeiro, perde-se a oportunidade de estimular a criatividade e a concorrência dos diversos escritórios de arquitetura, engenharia e planejamento urbano, que com as licitações e a abertura de editais, poderiam elaborar projetos que contribuiriam não só com os dois eventos internacionais, mas também com a infra-estrutura permanente das cidades envolvidas. 
Quem já teve que fazer alguma licitação para o governo, sabe que o processo não é dos mais simples e rápidos, porém é uma garantia de tornar o processo transparente, aberto e competitivo, valendo-se da melhor proposta para cada edital.
O Brasil tem a oportunidade de usar estes dois eventos como catalisadores de um plano de desenvolvimento e infra-estrutura para o país. Só que para isso, será necessário que todos se envolvam para garantir o correto uso destes recursos, não só para o embelezamento dos eventos, mas também para investimentos em habitação, transporte, fornecimento de água limpa e saneamento básico, segurança pública, alimentação, incentivos para a agricultura e subsídios para pequenos e médios produtores e empreendedores, entre outras ações.
Entre fazer projetos monumentais que serão destaque por alguns meses dos holofotes internacionis e fazer um planejamento de médio e longo prazo de investimentos precisos para o desenvolvimento social do país, tenho que ficar com a segunda opção. E que consigamos não estragar mais essa oportunidade.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vidas por um fio - Incêndio

Dessa vez foi na zona leste. Aparentemente em um lugar pouco chamativo, embaixo de uma avenida de porte considerável. Parece que a favela deu um último grito de desespero para ser vista pelo resto da cidade. Mas infelizmente, a chama da favela só brilha uma única vez.
As imagens – do UOL – trazem a triste constatação da fragilidade dos barracos que ali estavam. As poucas moradias de alvenaria, resistiram ao fogo, porém a grande maioria dos moradores teve todo o seu “patrimônio” consumido em algumas horas.
Os incêndios são calamidades cujas causas podem variar, desde criminais até os acidentes mais surpreendentes. O que entristece é saber que a dimensão destes eventos é, na maioria das vezes, amplificada pelo descaso cotidiano e a falta de investimentos direcionados ao desenvolvimento social e redução da população em situação de pobreza.
Apesar de eu concordar com algumas teses deterministas, inclusive a de Milton Santos, que relaciona o lugar de nascimento com as oportunidades de vida que uma pessoa pode ter, acredito que até o determinismo pode ser reduzido. Afinal, se pudermos garantir uma infra-estrutura melhor distribuída pelo mundo, em que consigamos expandir uma qualidade de vida razoável até para as localidades mais esquecidas, podemos extinguir os pontos determinantemente negativos.
Só por meio de uma mobilização global, com todos agindo diariamente pela garantia de direitos básicos e indiscriminados, que será possível driblar o determinismo de se estar no lugar errado na hora errada.

Aproveito para deixar uma série de links que encontrei em uma pesquisa rápida (coisa de 10 segundos procurando):
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/05/18/incendio-de-grandes-proporcoes-atinge-favela-naval-em-diadema-sp.jhtm

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/2009/01/12/04023470DCA15326.jhtm?incendio-em-favela-de-sao-paulo-deixa-200-desabrigados-04023470DCA15326

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/2009/01/27/0402366ADC896326.jhtm?incendio-em-porto-alegre-destroi-50-barracos-em-favela-0402366ADC896326

http://noticias.uol.com.br/album/20091912incendiobeira_album.jhtm#fotoNav=3 

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2010/05/18/incendio-em-favela-na-grande-sp-deixa-seis-feridos.jhtm

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2010/06/01/bombeiros-tentam-controlar-incendio-em-favela-em-sp.jhtm

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2010/05/28/bombeiros-controlam-incendio-em-favela-do-rio.jhtm

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Copa e nossos outros problemas

“O fim da pobreza vai exigir uma rede de cooperação global entre pessoas que  nunca se conheceram e que não necessariamente confiam umas nas outras”

Jeffrey Sachs,  em O Fim da Pobreza, no início do 12º capítulo Soluções Práticas para Terminar com a Pobreza

Em tempos de Copa do Mundo e euforia mundial, é inevitável não se zangar com a incrível mobilização de bilhões de pessoas para uma causa e não para outras. Confesso que consigo compreender e tolerar o fanatismo ao redor do futebol e dos outros esportes. Afinal, entretenimento e cultura são fundamentais para o desenvolvimento social e a satisfação dos prazeres pontuais, que nos incentivam a continuar existindo.
Mas, ao mesmo tempo, sinto falta de enxergar esse potencial de mobilização que demonstramos em situações específicas em outras situações que clamam por um comprometimento global. São tantos os chamados e apelos por um envolvimento de toda a sociedade no auxílio àqueles que ainda vivem em situação de pobreza, miséria ou indigência, que parece injusto observar o comportamento mundial em relação à Copa.
Com certeza já temos conhecimento, ferramentas e tecnologia suficiente para resolver grande parte dos problemas que ainda hoje assolam um contingente imenso de pessoas ao redor do mundo. Basta direcionarmos nossos objetivos e ações para este fim e poderemos em breve comemorar muitos outros feitos globais.
Será que se propuséssemos uma competição entre os diversos paises, estabelecendo critérios, regras e prazos para a erradicação da pobreza e atenuação das desigualdades sociais, conseguiríamos atingir o mesmo contingente de pessoas? E será também que conseguiríamos levantar a mesma quantidade de recursos?
Penso que levaríamos vantagem pois não seria necessário repetir o processo a cada quatro anos, mas se fossemos tão focados e dedicados, poderíamos realizar este evento apenas por alguns poucos anos, e nos seguintes estaríamos ocupados assistindo igualmente o futebol ou qualquer outro evento internacional.
Fica aqui a sugestão de leitura: O Fim da Pobreza, do Jeffrey Sachs, um dos idealizadores do UN Millennium Project e do Earth Institute. Em breve faço uma resenha deste e de outros livros sugeridos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Em construção... até quando?

Sempre que entro em uma moradia dentro de uma favela ou comunidade sou consumido por uma duplicidade de sentimentos. Na maioria das vezes, a família conta detalhes da fragilidade de sua casa, como o temor constante das chuvas e ventos que trazem instabilidade às paredes frágeis de madeirite. Ao mesmo tempo em que ouço atentamente o cuidado diário que um barraco como estes exige para manter-se de pé, compreendo que a fala traz escondido um caráter provisório da situação.
"Vivíamos de aluguel mas perdi o emprego e estava difícil de pagar, então viemos para cá", conta Cremilda, moradora da comunidade de Santa Emília, em Osasco, que afirma já estar ali há mais de 10 anos. Ela mora com seus 5 filhos em um barraco de madeirite sob o córrego que atravessa toda a favela. Sua casa alaga com qualquer chuva e sofre todos os dias com invasões de ratos e outros animais.
Essas famílias se veem obrigadas a reerguer todos os dias não só sua habitação mas também seu espírito de luta. Com renda familiar total de R$510,00 mensais (renda por pessoa estimada em R$85 mensais), esta família, a principio, classifica-se acima da linha da pobreza - de U$1 dolar por dia. Será que a definição de linhas de pobreza e indigência não carece uma reavaliação?
Fico pensando como um chefe de lar de uma família nessas condições pode se dar ao luxo de planejar um futuro distante dessa realidade, se nem mesmo a situação precária atual é vista como estável. Como parar de reconstruir todos os dias para estabelecer-se dignamente em definitivo?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Emergente ou em situação de emergência?

Barraco erguido com escombros da destruição em Branquinho (AL). Utilizando materiais diversos, a família Conceição, composta por 10 pessoas, preferiu erguer sua própria habitação à depender dos abrigos lotados disponibilizados pela Defesa Civil.
(Foto: Beto Macário -  Especial para UOL)



Barraco/moradia de uma família na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco. Apesar da comunidade possuir muitas casas feitas de bloco, ainda há uma grande quantidade de barracos feitos de madeirite, restos de madeira, panos, outdoors e outros materiais de extrema fragilidade.
A comunidade fica no alto de um morro e a força do vento põe em risco a estrutura de grande parte das habitações precárias do lugar.





Também na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco, pode-se observar na casa de outra família,  de uma mãe e três crianças, a situação cotidiana pela qual algumas pessoas se vem obrigadas a enfrentar.
O cômodo que serve como dormitório desmoronou e o chão do resto da casa esta ruindo a cada dia. Sem ter uma melhor alternativa de moradia, a família se vê obrigada a continuar neste barraco (comprado por mais de 10 mil reais e ainda sob pagamento).

O receio de chamar as autoridades é de que a Defesa Civil apenas os retire da casa que compraram sem garantir um novo espaço. Segundo a própria família, muitas pessoas que são retiradas de suas casas por estarem em áreas consideradas de risco acabam se encontrando em situações ainda mais complicadas depois das "soluções" dadas pelo governo








Vendo estes três exemplos de extrema pobreza na prática, volto a refletir sobre o que queremos dizer com o termo país emergente. Será que estamos falando em ascensão econômica e desenvolvimento social ou apenas fazendo um chamado de atenção para a situação de emergência pela qual estes países estão passando diariamente?
Os casos acima são apenas uns poucos registrados, em uma infinidade de injustiças e tragédias diárias que existem em todo o território nacional. A matéria do UOL, apesar de trazer um tom de denúncia e servir para atingir um público amplo sobre a situação no Alagoas, peca ao mostrar esta situação como algo surreal, único e exclusivo de um estado de calamidade pública causado por um fenômeno natural. Confira a matéria do UOL de 28/06/2010
Todos os dias encontramos pessoas que vivem em situações parecidas ou até mais complicadas de moradia, não por que foram atingidas por forças da natureza, mas por que de alguma forma foram deixadas às margens da sociedade, dos direitos, da ascensão econômica e de todo esse desenvolvimento social do qual os países emergentes tanto se vangloriam.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Água

 Na comunidade de Colinas D'Oeste, em Osasco, a água é um bem bastante disputado. A distribuição é feita de maneira bastante irregular pelos órgãos públicos. Há muita intermitência no fornecimento às pessoas que possuem encanamento, uma minoria na região. Todos os outros moradores dependem de um sistema extremamente precário elaborado e financiado pela própria comunidade.  
                                                                                     



Nas imagens pode-se ver o sistema de mangueiras expostas que conduzem a água dos escassos pontos de fornecimento - muitas vezes a casa de um morador - ao resto das pessoas.
A grande maioria não possui acesso direto nem a essas mangueiras, tendo que periodicamente depender do abastecimento de tonéis e galões para obterem água por alguns dias.
Em todas as casas entrevistadas, haviam torneiras e pias sem uso, substituídas na prática por caixas de água, tonéis, baldes e outros recipientes muitas vezes imundos para a armazenagem desse item tão importante.
Vale dizer que a comunidade é muito grande, dividida em 6 setores, todos dependentes deste sistema.

O tema do fornecimento de água limpa e potável é um dos pilares do desenvolvimento social, tendo em vista que todo ser humano tem necessidades básicas e diárias de consumo. Se estas necessidades não são atendidas, o desempenho no cotidiano sofre grandes alterações, gerando uma reação em cadeia para que estas pessoas não consigam sair da situação de extrema pobreza em que se encontram.
Ao mesmo tempo, já existe muito conhecimento na área de fornecimento de água e saneamento básico que não têm ainda alcance para todos. Além das estruturas urbanas, há também algumas soluções quase emergenciais que, apesar de interessantíssimas, ainda não recebem o devido apoio. É o caso de uma garrafa com filtro para qualquer tipo de água, chamada Life Saver e desenvolvida pelo inglês Michal W. Pritchard. 
Há um vídeo interessantíssimo de demonstração dessa garrafa em: http://www.ted.com/talks/lang/eng/michael_pritchard_invents_a_water_filter.html




                                                                        

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Proteção social e Bolsa Família

Na semana passada, a ONU divulgou um novo relatório de acompanhamento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, em Nova Iorque. A BBC Brasil publicou uma matéria resumindo alguns dos pontos principais citados no documento e eu, infelizmente, ainda não encontrei o documento na íntegra, pela Internet.
Na reportagem ONU cita Bolsa Família entre ações que contribuem para Metas do Milênio, o destaque é dado para o fato do Programa Bolsa Família, junto a um programa mexicano chamado Oportunidades, ter aparecido como uma das ações que vem contribuindo para o fim da pobreza nestes países. De fato, eu acredito que esse tipo de política de proteção social e transferência de dinheiro público têm muito a contribuir com as camadas mais pobres da sociedade.
Porém, o que tem de ficar bem claro é o fato de ainda haver necessidade de se combinar diversas ações para suprir as necessidades complexas de uma população. A transferência de dinheiro é uma política que deve ser sempre examinada com bastante cautela. Afinal, a simples ingestão de dinheiro público na população carente automaticamente altera o resultado das pesquisas e dados sobre pobreza. O habitante que tem renda per capiuta inferior a U$1,25 por dia, ao receber o auxílio estatal, sai instantaneamente da linha da pobreza no papel, mas na prática continua vivendo nas mesmas condições que se encontrava antes do benefício.
É claro que este benefício pode vir a trazer um novo status à família que o recebe, mas cabe ainda a outras políticas públicas garantir um leque de oportunidades que permitam que esse dinheiro recebido possa ser investido em infra-estrutura e desenvolvimento familiar.
Deve haver um equilíbrio muito bem pensado nos cofres públicos que garantam que a transferência direta de dinheiro não substitua os diversos investimentos em infra-estrutura coletiva, como fornecimento de água limpa, construção de redes de saneamento básico, qualificação dos transportes, oportunidades de moradia de baixo custo e alto desempenho e, claro, geração de renda.
O documento da ONU aparentemente traz ainda uma série de outras informações sobre os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mas isto terá de ficar para um outro momento.




                              


                                                                                                       


                                  

                                                

domingo, 20 de junho de 2010

Crise de Bem Estar e Crescimento Invísivel

Duas matérias interessantes para observar as discussões sobre desenvolvimento social e pobreza.
Na primeira reportagem, a Folha conta a "bem sucedida" política de bem estar social implementada na Irlanda. De tão interessante, as pessoas preferem depender da ajuda estatal à procurarem suas próprias formas de sobrevivência. Eu de fato me pergunto: se há tanto recurso disponível para ser compartilhado com os cidadãos irlandeses, qual seria a melhor forma de investir esse capital?
A segunda sugestão de leitura é um pequeno artigo do jornalista Fernando Canzian sobre o crescimento acelerado do país. Ao meu ver, ainda havia bastante assunto a ser explorado por ele, mas ele toca na discussão Crescimento X Desenvolvimento. Ainda vamos discutir bastante a relação entre o crescimento econômico e os reflexos desse aumento de capital para as camadas mais pobres na prática. Vale como subsídio para a discussão pelos mapas de crescimento no Brasil e pode despertar alguma reflexão pela comparação entre estados.

Pobreza na prática


































Eu tinha planejado escrever hoje sobre um projeto de educação que trabalha conectando universitários à realidade da educação pública no Brasil, mas fui ontem mais uma vez aplicar enquetes sócio-econômicas junto a ONG Um Teto para meu País e achei importante escrever sobre isso.

As fotos são da comunidade de Padroeira, no município de Osasco. Já havia estado na região outra vez, e a sensação infelizmente continua semelhante. Quando ouvimos falar ou lemos algo sobre as linhas de pobreza ou indigência, estabelecidas por órgãos internacionais como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI), fica bastante difícil dar significado ou compreender o que significa uma parcela - grande - da população vivendo com menos de U$1,25 por dia.
Afinal, o valor soa tão baixo que não parece possível, e assim perdemos um pouco do que essa informação poderia nos mobilizar a fazer. Mas entrando e desbravando espaços em que estes números fazem parte do cotidiano, é possível aos poucos conhecer a situação emergencial pela qual milhões de pessoas no mundo são obrigadas a enfrentar todos os dias.
Apesar do crescimento aparente do país e os diversos programas de ajuda criados para suprir algumas carências básicas da população, ainda há muito trabalho a ser feito antes que possamos concretizar o sonho do economista prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, de colocar a pobreza em um museu. Para atingir a esse objetivo, é preciso fazer mais do que apenas investimentos financeiros ou ações de desenvolvimento econômico.
Carecemos de um pensamento coletivo voltado a concretização de uma sociedade mais justa e melhor distribuída. Com certeza já possuímos as ferramentas necessárias para evitar que situações como as retratadas nas fotos sejam evitadas. O que nos falta, coletivamente, é interesse real de assumir essa responsabilidade e trabalhar por sua mudança.
Nessa hora, não dá prá ter preguiça. E quanto antes resolvermos essas questões, mais cedo poderemos celebrar festas, viagens e copas do mundo sem peso algum na consciência.







Casas construídas sob o córrego. Constante perigo e odor extremamente desagradável, todos os dias.













quarta-feira, 16 de junho de 2010

Gêmeas ficam sem vaga em escola pública



Começo este post dizendo que particularmente, nem acho que essa reportagem represente de fato a realidade de educação no país. Com certeza, ela representa os prejuízos causados pela desumanização dos processos. As meninas foram vítimas de um erro, de certa forma plausível, justificado pela identificação de uma duplicidade no registro das crianças.
De fato, é algo possível de acontecer e deveria ser também fácil de ser consertado. Mas infelizmente, eventos como esse devem acontecer todos os dias, em todos os cantos do país e, na maioria das vezes, devem acabar sem uma solução construtiva.
A educação é sempre tema de discussões acaloradas e costuma gerar um bom debate sobre as origens e soluções dos problemas no Brasil. Porém, não basta garantir que todas as crianças consigam suas vagas, é necessário buscar a excelência no ensino, envolvendo a sociedade não só na teoria do problema, mas também na prática da solução.
Na próxima publicação vou escrever sobre uma ideia, que virou um projeto e tem bastante a contribuir para esta discussão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dentes brancos e bolsos menos vazios

Em relação ao meu post anterior, fiz uma certa crítica à maneira como foi abordado o tema da pobreza pela Folha e, ontem, tive a grata surpresa de verificar uma matéria que de fato trabalhava uma iniciativa pontual de melhoria das condições dos mais desfavorecidos.
No mesmo caderno Mercado, a jornalista Carolina Matos traz, sob a manchete "Dentista cria rede com mais de 100 clínicas", a experiência da rede odontológica Sorridents, que atende pessoas de baixa renda no Brasil, e em 2009 atingiu R$120 mi em faturamento.
A empresa, criada em 1995 por uma estudante de odontologia, queria atender a um público que não possuía recursos, e foi proposto um esquema de financiamento para as consultas e cirurgias. Apesar dos atendimentos não serem gratuitos e aparentemente não haver um planejamento de compensações entre quem pode e quem não pode pagar, a empresa Sorridents se enquadra em uma discussão do indiano C. K. Prahalad sobre negócios voltados à base da pirâmide.
Em seu livro, A Riqueza na Base da Pirâmide, o doutor em administração e professor de estratégia corporativa comenta sobre este novo mercado com foco nos bilhões de baixíssima renda que vivem "na base da pirâmide global". Algumas empresas notaram a possibilidade de faturar milhões por meio das vendas para as classes D e E, elaborando produtos de menor custo, maior financiamento e muitas vezes acompanhados também de baixa qualidade.
Assim, a Sorridents, retratada na matéria, vem para suprir esta carência de atendimentos odontológicos para uma população sem acesso aos serviços particulares tradicionais e ignorados pelas políticas públicas. A questão é como garantir que estes serviços mantenham um padrão de excelência sem excluir os mais pobres dos mais pobres. E ainda, por que o poder público não consegue qualificar seu atendimento à população? Atualmente o serviço é realizado pelo SUS e o cidadão tem de enfrentar filas gigantescas, esperar que abra a agenda dos dentistas, o que pode fazer com que a consulta seja realizada meses depois.
Mas, aparentemente, é possível de ser feito de uma forma diferente.

Para saber mais, acesse www.sorridents.com.br

obs: A matéria da Folha está bloqueada somente para assinantes

domingo, 13 de junho de 2010

Por uma outra abordagem

A Folha de São Paulo publicou hoje em seu recém criado caderno entitulado Mercado, uma matéria com a seguinte manchete "Brasil deve cortar pobreza à metade até 2014".
A reportagem é baseada na entrevista cedida pelo economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-Rio. O que chama a atenção é a fundamentação puramente econômica para uma afirmação de tamanho peso quanto a da chamada para a reportagem.
A análise do Centro de Pesquisas é bem pouco questionável em relação a sua metodologia, tendo em vista a credibilidade que uma instituição como a FGV-Rio tem no setor econômico. O que incomoda é a redução de todo um contexto social de desigualdades sociais invisíveis em apenas um viés, voltado principalmente ao crescimento econômico do país na chamada "era Lula".
Não há dúvidas que o país vem experimentando nos últimos anos uma fase de excelente desenvolvimento econômico, com consequente aumento de visibilidade e força política internacional, mas ainda é bastante cedo afirmar que o país está ativamente diminuindo as desigualdades sociais. Para usar de um pouco de teoria econômica, o economista Marcelo Neri parece ser adepto de um ponto de vista keynesiano que afirma que é necessário esperar a massa do bolo crescer para dividi-la. Porém, esta prática é revista e criticada pelo economista e consultor das Nações Unidas, Jeffrey Sachs.
Segundo Sachs, os países desenvolvidos e também os emergentes deveriam investir ativamente uma maior parcela do PIB em ações práticas de desenvolvimento. Eu particularmente acredito que uma reportagem que traz uma notícia tão boa, como este anúncio da redução de metade da pobreza do país, deveria estar inserida em um caderno como o Brasil, ou o Cotidiano. E sendo bem crítico, eu gostaria de ver no detalhe da reportagem ações que vem sendo realizadas pelo Estado, empresas e a Sociedade Civil, organizada ou não, subdivididas em projetos para melhoria da Habitação, Educação, Segurança Pública, Saneamento Básico, Transportes e Geração de Renda, para citar apenas algumas das questões que rodeiam as desigualdades de oportunidade do Brasil.
O foco apenas no crescimento econômico do país e na geração de renda encoberta por números despersonalizados reafirma a visão corrente de que a pobreza é vista no país como um fenômeno quase que exclusivamente restrito à Economia, e pouco focado na complexidade e amplitude multidisciplinar que deveria envolver a discussão da Pobreza.

Obs: Na reportagem foi considerada a Pobreza como: pessoas que vivem com até R$137,00 per capita por mês.
Related Posts with Thumbnails
BlogBlogs.Com.Br